Relação entre cultura de massa e um pensamento mais profundo e erudito(filosofia)

 Aos meus leitores, desculpem-me primeiramente pela ausência nessas semanas que se passaram. Hoje pretendo voltar a escrever aqui e abordar um tema pedido por uma das leitoras do blog, que é sobre a relação entre a cultura popular que vem crescendo atualmente e a filosofia em sua definição mais ampla, como pensamento mais profundo e busca de conhecimento.
 Esta pergunta traz consigo duas nuances principais e uma predisposição equivocada na qual podemos cair pela própria indução de nossa razão. Podemos analisar de dois principais planos: o primeiro de uma perspectiva da criação de cultura popular, e o segundo partindo dos próprios consumidores dessa criação. Então, há dois principais pontos de partida. Começando do ponto de vista produtivo, a relação entre erudição e criação deste tipo de conteúdo não é tão simples assim, já que a primeira indução racional que temos é de que se tratam de coisas extremamente distantes uma da outra, assim sendo, há uma ideia geral de que aqueles criadores de cultura popular não são tão inclinados à um grau de intelectualidade/erudição. Inúmeras são as implicações que podemos ter a partir desta proposição; sendo todas elas em algum grau falsas visto que uma de suas bases também é.
  A afirmação oposta talvez não seja verdadeira em sua integridade já que existe uma manipulação dos processos criativos mais elevados. Consciente ou inconscientemente é necessário conhecer o mundo em uma forma mais complexa para que se possa criar um conteúdo que tenha quantidade de consumo condizente com o que se espera de uma criação valorosa, especialmente do ponto de vista financeiro. Afinal, é disto que se trata o marketing, criar algo que venda. Mas, mais importante do que só apresentar algo, é conhecer o campo mais técnico para que se crie embasando no que funcionará. Este processo exige um domínio técnico e muito mais complexo que a própria criação, e quase sempre usa de filosofia(em sua definição mais ampla) ou das artes. Entretanto, não são todos os criadores que conhecem este processo, já que se tornou algo tão presente que podemos intuitivamente saber o que funciona e o que não funciona, mesmo sem este background. Logo, a afirmação oposta não pode ser considerada totalmente verdadeira haja visto que inúmeros criadores estão muito distantes de um grau de pensamento mais profundo, fazendo deles meros copiadores de um conceito que sequer conhecem. E aqui temos o espectro no qual se apresenta a questão.
  Partindo do ponto de vista de um criador possuidor deste pensamento, temos criações certeiras em fendas psicológicas mais facilmente palpáveis, como por exemplo o tema família, ou romances impossíveis e angustiados, ou conflitos morais, etc. São, portanto, trabalhadas sob estes temas mais comuns, perturbados, passíveis de uma reação defensiva e opositora muito forte, já que há certo ponderamento na identificação do consumidor, e um laçamento para dentro do problema que está sendo abordado.
  Atravessando o processo de criação e chegando ao plano de consumidores, temos uma interessante visualização de uma proposição relacionada àquela falsa. Os consumidores, são eruditos e não-eruditos primeiramente, mas os eruditos têm certa tendência a se mostrarem mais interessados nas criações mais profundas e conceituadas, enquanto os que não são tanto podem consumir independentemente da solidez da base de produção. Aqui é onde nasce a generalização da primeira proposição de que são ideias distantes entre si. Essa indução não é nada mais que uma seleção, feita essencialmente pelos mais eruditos, dentro do campo da cultura popular, mais proximamente do limiar entre a pop e erudita. O desprezo é tamanho com o que fica abaixo deste padrão qualitativo, que se tornou muito fácil de se guiar o pensamento por este caminho.
  Temos então que existe uma separação ainda entre a cultura pop "pior" e uma mais elevada que é mais embasada e criativa, então o próprio público se divide, mostrando inclusive um pouco do seu grau de erudição e percepção. Poderia citar aqui o exemplo geral entre o que é de cultura pop dentro e fora do universo geek. Por ser um, sou um pouco tendencioso a falar, mas acredito que os conteúdos são muito mais criativos dentro deste campo do que fora dele, obviamente podendo ocorrer exceções. Seria como comparar Star Wars ou o MCU com Cinquenta Tons de Cinza ou A Saga Crepúsculo, por exemplo.
  Mas se dentro do campo mais erudito da cultura popular, ainda tem muitas vendas, as pessoas estão mais eruditas? Óbvio que não. Diria por último que há pessoas consumindo porque isto foi projetado assim, e não necessita da percepção do plano mais profundo de criação. Logo, ainda é questionável dizer que em um grupo como o geek, as pessoas são mais eruditas que outras..; Este é um dilema que só pode ser respondido comparando o consumo individual de uma cultura mais iluminada e densa.

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