Tem certeza que é verdade?
É verdade que as certezas são sempre verdades ou é certeza
que não existe tanta verdade na certeza como se pensa? Ou ao menos as verdades não
são necessariamente certas quando há certeza? Eis uma das maiores questões que
o ser humano pode fazer: o que é certeza e o que é verdade? Outra boa pergunta
que segue é a de que se elas realmente andam lado a lado como se imagina.
Este se trata de
mais um tema complexo que venho aqui refletir. Então... definido como um
problema difícil, não me pego mais na obrigação de trazer uma resposta mágica e
mirabolante, até porque não a tenho em um grau mais profundo e que seja digno
de serem ditas sobre um tema quase indizível.
Mas, o que posso
tentar fazer para alimentar a sede por conhecimento do meu leitor? Posso pensar
em algumas possibilidades, mas se busca fonte de motivação, aqui com certeza não
é seu lugar. A jornada é mais uma vez árdua e longa, e o que posso fazer é me
propor a trazer alguns pensamentos.
Partimos então das definições.
Começo trazendo a de certeza por ser a mais trivial de todas e relativamente
fácil... Certeza é todo e qualquer convencimento de um grupo ou pessoa a
respeito de algo. Dito isto, me resta definir o que seria então a verdade...
Verdade é tudo aquilo que é real no plano psíquico, metafisico pessoal, analítico
ou natural. Não poderia eu achar uma definição mais apropriada, embora esta
ainda me dê algum desconforto, já que traz o relativismo junto com a sua definição.
Ora, mas qual a relação
do relativismo com a verdade? Diria que essencialmente ele me parece uma nuance
que aparentemente de tempos em tempos surge e toma conta do pensamento frente
às verdades absolutas. Isso aconteceu abruptamente em pelo menos dois grandes
momentos da história: o primeiro quando Sócrates, Platão e
Aristóteles(principalmente eles) surgem para destruir a relativização da
verdade feita pelos sofistas e pré-socráticos; já a outra, vem com as teorias
de Albert Einstein que deram inicio ao século da relatividade e mais uma vez,
ao relativismo diante das verdades.
Então, me parece impossível
em primeiro plano fugir desta superfície de que a verdade depende do
observador, e se ele está ou não observando (para os aficionados em física quântica...).
É obvio que caso surja alguém do porte de Aristóteles, Nietzsche, Kant poderia
mudar essa perspectiva mais uma vez alegando as verdades absolutas embasadas
com um dote de percepção quase que sobrenatural. Não quer dizer que não acho
que pessoas desta magnitude intelectual existam, pelo contrário, existem vários
por ai com tamanho brilhantismo (sem endeusar muitos os pensadores passados.
Fanatismo é irritante em todas as manifestações possíveis...), mas que provavelmente estão vivendo em função de algo que os apetecem.
Poderia então dizer
que existe uma verdade absoluta? Eu não tenho muitas dúvidas, mas como ela é
formada já é bem mais complicado. Me parece que da forma como compreendemos o
mundo, temos uma pequena parcela do todo em nossas vidas. Conforme amadurecemos
e conforme seja a amplitude do intelecto, esta consciência vai aumentando. Desta
perspectiva, até o mais sábio tem algo a aprender com o mais tolo, por menor
que seja o ensinamento.
Se tratam de apreensões
de mundo e do contexto maior diferentes, como diz Berkley. Logo, temos uma
parte da verdade ou podemos ainda estar delirando... O delírio, me parece que
deixa dificultada a definição de verdade tal como sendo algo válido a todos,
nem que sejam em um pequeno grau. O que posso dizer é que caso conseguisse
separar os humanos delirantes dos que são sãos, e destes últimos extrair tudo o
que têm, ainda assim faltariam peças para juntar. Existem tantas perspectivas
de mundo quanto humanos que já existiram durante o universo, e nem a estes
todos conseguiriam montar o quebra-cabeças.
Poderia ainda trazer
o conceito de potência e ato, e de que somos potência em relação a verdade, mas
que nunca viraremos ato por sermos pouco potentes e não conseguirmos ir tão
longe na investigação. Agora me cabe a relação de certeza e verdade, e aqui
devemos ter cuidado ao associar...
Criamos nossas
certezas pessoais de acordo com nossas verdades subjetivas (não necessariamente
quebrando a existência de uma absoluta e imperceptível a nós), e estas não passam
de modos de apreensão do mundo diferentes (nunca teremos um igual ao outro já que
não passamos pelas mesmas experiências, na mesma intensidade e da mesma
forma/sequência...). Não necessariamente deixam de ser verdade por haverem discordâncias,
mas se trata apenas de uma individualização dela de acordo com a vida. Há ainda
os seres delirantes e que não possuem verdade em suas paranoias, mas que julgam
as ter por serem psiquicamente incapazes de perceber a afecção, como diz o
Freud.
Ainda aprofundaria na
questão da ciência e leis naturais, já que são verdades universais e que se
comportam da mesma maneira sob as mesmas circunstâncias. A estas, fica difícil relativizar
sem que antes traga o que há de relativo na ciência, que conforme meus
conhecimentos, são inerentes a física quântica. Para todos os outros campos, me
parece unânime o pressuposto das leis naturais existirem e serem imutáveis. Não
me caberia portanto trazer esta questão aqui porque parece ser realmente
verdadeiro em relação a natureza. Assim, o relativismo tende a se manter no âmbito
existencial, social e psíquico humano, estando o restante livre disto.
Então, existe sim
certeza e verdade juntas; assim como existe uma verdade absoluta e que não pode
ser vista por nenhum humano visto que é algo inatingível com nossa potência
cognitiva (seja ela quão dotada imaginar...). A partir do momento que a certeza
se instala sem a verdade, temos o delírio...alguns preferem chamar de falta de
observação, mas saindo dos eufemismos é essencialmente ignorância/estupidez.
Comentários
Postar um comentário